onde nos leva a arte

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

"Em trânsito pelas instalações televisivas da nossa SIC, sentia-se um frémito de luz, mais, um mal estar evidente na redacção por parte dos jornalistas, por terem que abrir os noticiários com a más novas do dia; geralmente incidências sobre economia, que tendem a causar uma espécie de depressão, de magazine arauto de falências, taxas negativas e insolvências.
A economia, estúpidos, é hoje uma fonte de terror capaz de ombrear com a programação mais pesada do FantasPorto; é uma forma de manter a populaça atemorizada, a par dos surtos de gripe das aves, as pressões sobre as arbitragens e outros métodos de manter a classe média apavorada, sem poder de compra, que é para isso que essa média existe.
Nós, os novos pobres, estamo-nos borrifando para os índices internacionais, as culpas situacionistas e os créditos mal estacionados e em segunda fila; só os sem abrigo meditam sobre a taxa Euribor e o pessoal que se pavoneia no centro comercial exulta com a descida nas sapatilhas Nike.
E então, subitamente, vem a Morte, que já não é tão só uma dama velada de foice, a martelo, mas uma inevitabilidade como os impostos e os tele-seguros; maiores tragédias aconteceram e sucederão no reino animal coroado pela inumanidade: sem um olho em Gaza, uma mulher confessa ter perdido tudo sob os escombros, um colchão, uma cabra e um fogão.
Nós, os ex-novos ricos queixamo-nos de tudo e mais alguma coisa, da mesma cama vazia o cabrão que fugiu com a outra e o microondas solitário a reaquecer afectos.
Enquanto a verba para a cultura não atinge 1% do PIB, longe disso, a quota para a Civilização regride quando morre uma Voz, dos Sitiados.
João Aguardela, 1969-2009, descansa raPaz."
Rui Reininho, "Os Chateados", JN, 25/01/2009

1 comentário:

s. disse...

obrigado pela partilha ( :