Começo o texto assumindo que ia preparada para gostar do filme, porque o actor principal me fascina. O Wagner Moura tem qualquer coisa que não consigo explicar e me prende a respiração e, sim, conheço-o das "nobelas". Em vários outros pontos da internet encontrei críticas ao filme que referiam sempre o Cidade de Deus como sendo um filme melhor. É, é mais leve. Mais poético. Mas eu não gostei do Cidade de Deus. E no Tropa de Elite, de José Padilha, encontrei aquilo que desconhecia (que nunca tinha VISTO) e aquilo que, no fundo, sinto desde há algum tempo em relação à hipocrisia que se vive na sociedade moderna sobre o combate ao crime. Por um lado queremos ouvir os sociólogos dizerem-nos que os criminosos só o são por culpa de todos nós e que os polícias são uns monstros que batem e matam sem olhar a quem. Pensamos, com as nossas cabecinhas formatadas de meninos a quem nunca faltou nada (de básico, vá lá, all star não contam), que isto, a continuar assim, vai ser um faroeste com a polícia a resolver os problemas à sua maneira. Por outro lado, sentimo-nos secretamente vingados quando os polícias resolvem (alguma) coisa, com violência, ou não. Claro que não concordo com isto. Claro que não. Eu tenho uma cabeça democrática, apesar de a realidade não o ser. Apesar de ter visto, por exemplo, uma reportagem em Salvador da Bahia, sobre prostituição, e em que uma das histórias era protagonizada por uma mãe que deixava o filho de 8 meses num quarto de hotel com um desconhecido pedófilo em troco de dinheiro, durante umas horas. Isto, como sabemos nós, europeus, resolve-se com um tratamento psiquiátrico. Claro que se resolve. O que sabemos nós da realidade da América latina? O que nós queremos é ir lá passar férias, dançar um tango, beber umas coisas, andar pelo Peru à boleia porque gostamos muito de ler a Profecia Celestina. Quando saí do cinema, vinha a pensar como sou insignificante. E a vontade de vomitar não era por causa do sangue, mas sim porque tanto me parece obscena a subjugação do mais fraco pelas armas, como a falsa inocência do cidadão que insiste em viver como se os seus vícios, que não o matam a si próprio, não matassem pessoas inocentes, como, ainda, o jornalista que, no meio da tragédia, abre o saco onde está um dos mortos, para lhe fotografar o rosto. É que, como disse alguém, isto anda tudo ligado.
onde nos leva a arte
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
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8 comentários:
Não vi o Tropa de Elite... Tenho curiosidade! Mas convém dizer que os psicólogos e psiquiatras não resolvem tudo. Há muita coisa que vai além do nosso entendimento. Isto anda tudo uma desgraça mesmo... Parece o verdadeiro filme de cowboys onde tudo se resolve à lei da bala. As noticias de todos os dias tornaram-se repetitivas e assustadoras. O mundo não é perfeito mas podia ser menos corrupto e maldoso. Isto é pura utupia ;)
vou só deixar um comentáriozinho assim maldoso, tá bem? :D
o dono casa onde me costumo tatuar disse sobre o efeito da "cidade de deus" sobre uma certa franja sociológica da sua clientela: "o pessoal desde que viu esse filme ficou maluco: só querem é fuscos para andar aí a furar pessoas e viver numa favela..." - basicamente, querem ser os maiores do morro deles.
Esperemos que a "tropa de elite" não tenha o mesmo efeito na franja mais psicótica da polícia. :P
Num tom mais sério, podemos dizer que há uma certa "bolha social" que começa a rebentar... com a mesma facilidade que se pode ver nos filmes.
Mas a questão é que a tal bolha social no Brasil tem umas dimensões absolutamente gigantescas, de selva. E de onde virá a psicose dos polícias, pergunto, inocentemente? :) O problema, muitas vezes, destas análises, é pensar-se nos polícias, nos ladrões e no cidadão inocente, como se fôssemos totalmente distintos uns dos outros. Estamos enredados no maniqueísmo, inundados por uma falsa informação constante e diária veiculada pelos media. Se não pensarmos pela própria cabecinha...
Resumidamente: rotwang centrifugou, servindo a quente: jerónimo portas.
Excuse me? Pedimos encarecidamente ao membro (amputado) de seu nome Five coisas caídas que da próxima vez escreva em português do brasil, talvez assim se perceba alguma coisa. Ehehe, bem-vindo, meu caro!
Apesar de ter gostado, nesse filme só consegui ver o que de pior há na natureza humana. Mesmo o pouco de bom que há se extingue e ninguém é inocente. É desesperante. Nesse aspecto, preferi ver o "Wall-E".
Puto, essa tua primeira frase poderia ser minha sobre os filmes do Tarantino, que não suporto mas a que toda a gente parece achar imensa piada. No Tropa de Elite creio que a violência mostrada se justifica, é quase documental, e não vi só coisas más. Se calhar porque extrapolei o significado do filme. O Wall-E não vi. Bem-vindo à nossa pequena tertúlia :)
Debbie, acrescentando ao que você já disse, mas bastante pertinente:
"Se alguém acha (e certamente há muitos) que partir para o tudo-ou-nada é legítimo na situação do Rio hoje, Tropa de Elite ratifica esse pensamento com uma estrutura dramática sem furos e altamente persuasiva. Agora, reconhecer o brilhantismo de Padilha como narrador não é a mesma coisa que concordar com seu discurso. Tropa de Elite é uma peça de convencimento das mais eficientes, por vezes sofisticada, mas não deixa de ser moralmente condenável. Não há guerra que justifique o atropelo da lei. Tortura e execução nunca serão justificáveis."
http://www.omelete.com.br/cine/100008423/Tropa_de_Elite.aspx
Abraço.
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